Eu geralmente não costumo fazer artigos que não sejam sobre livros ou filmes, mas minhas férias estão quase acabando e eu não poderia ficar sem compartilhar com todos a minha luta, da minha família e a nova integrante da mesma, a Brigitte.
Em dezembro de 2012, minha mãe encontrou uma cadelinha de aproximadamente uns 2 meses cheia de bolinhas de pus no corpo e bem magrinha; era uma filhotinha de basset toda fofinha, e por mais que estivesse cheia de caroços sobre o corpo e os ossinhos aparecendo, se a gente chegasse perto dela, na hora começava a abanar o rabinho. Ficamos com ela, óbvio.
Pois bem. Demos água, comida, remédio anti-vermes, limpamos suas feridinhas. Depois de um tempo começamos a notar que ela tinha uma espécie de tique, piscava o olho esquerdo com força e constantemente. Fizemos uma breve pesquisa na internet e supomos que ela tinha esclerose de cristalino. Infelizmente, após uma ida de 5min ao Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (que está cobrando R$60,00 por consulta, o que é triste para uma cidade com 700 mil habitantes que não possui ainda nenhum posto veterinário...), descobrimos que o que a já nomeada Brigitte Basset tinha era cinomose, ou como eu e os já apresentados à doença gostamos de chamar, o câncer do cão.
Pra quem não conhece, vou colocar uma base sobre o que é a cinomose:
Trata-se de um doença que acomete os cães. Ela pode atingir vários órgãos, ou seja, é sistêmica, podendo atuar em todo o organismo.
É altamente contagiosa, sendo causada por um vírus que sobrevive por muito tempo em ambiente seco e frio, e menos de um mês em local quente e úmido. É um vírus muito sensível ao calor, luz solar e desinfetantes comuns e, leva quase sempre à morte tanto filhotes, porém os adultos também podem se contaminar se não vacinados. Não escolhe sexo ou raça, nem a época do ano.
Como é feita a transmissão?
Ela se dá através de animais que se contaminam por contato direto com outros animais já infectados ou pelas vias aéreas quando respiram o ar já contaminado.
Alguns animais doentes podem não apresentarem sintomas, porém estão disseminando o vírus para outros animais ao seu redor através de secreções oculares, nasais, orais ou pelas fezes, sendo que a principal fonte de transmissão é através de espirros, pois quando o animal espirra, elimina gotículas de água pelo nariz e estas gotículas estão contaminadas com o vírus. Este ato de espirrar pode contaminar cães sadios que estiverem por perto ou até mesmo um humano pode carregar o vírus nas suas roupas ou sapatos, sem se contaminar indo até um animal sadio, onde será depositado. Portanto, o cão pode se infectar por via respiratória ou digestiva, através de contato direto ou fômites (um humano, por exemplo) e até por água e alimentos que contenham secreções de animais contaminados.
Os sintomas da Cinomose:
Depois que o animal foi infectado, ocorre um período de incubação de 3 a 6 dias ou até 15 dias, que é o tempo que o vírus leva para começar a agir dentro do organismo e fazer com que o cão apresente os sintomas. Após isso, o animal apresenta febre que pode chegar até os 41º C com perda de apetite, apatia (ficar quieto demais), vômito e diarréia, corrimento ocular e nasal. Estes sintomas iniciais podem durar até 2 dias.
Após isso, o animal pode se apresentar com o comportamento normal, como se estivesse curado, passando uma idéia de que poderia ter sido acometido apenas de um mal estar temporário. Essa falsa idéia de que está tudo de volta ao normal pode permanecer por meses.
Após isso, surgem os sinais patognomônicos (específicos), da cinomose e a intensidade destes sinais dependerão do sistema imune de cada animal.
Dentre estes sinais típicos podemos citar vômito e diarréia, novamente o corrimento ocular e nasal e sinais de alteração do sistema nervoso como falta de coordenação motora (o animal parece estar “bêbado”), tiques nervosos, convulsões, paralisias.
De acordo com o estado do sistema imunológico do animal como um todo, ele pode vir a óbito diante de apenas um só sintoma ou pode sobreviver desenvolvendo todos os sintomas, a todas as fases com prognóstico desconhecido.
Pela ordem geralmente, os primeiros sintomas da segunda fase (aquela após meses em estado normal) são a febre, falta de apetite, vômitos, diarréia e dificuldade de respirar (dispnéia). Posteriormente, conjuntivite com muita secreção ocular, secreção nasal acentuada e peneumonia. Passada uma ou duas semanas, os sintomas neurológicos são apresentados. Diante destes sintomas, o cão pode ficar agressivo, tendo dificuldade em reconhecer seu dono, pois ocorre uma inflamação no cérebro. Pode ocorrer também uma paralisia dos músculos da face e diante disso o cão não consegue beber água, pois a paralisia não permite que ele abra a boca. As lesões cerebrais e medulares devido ao vírus podem causar paralisia no quarto posterior como se o animal estivesse “descadeirado”, ou apresentar incoordenação motora. Os sintomas tendem a piorar conforme os dias se passam, de forma lenta ou rápida, dependendo de cada animal, porém não regridem depois do vírus já estar devidamente instalado no organismo.
Foi uma tristeza pra toda a família. Lembro-me de quando tinha 10 anos e já tinha perdido uma cadelinha de cinomose. Morávamos em apartamento, ela tinha por volta de 1 ano e ainda não tinha todas as vacinas. Um dia a levamos numa feira da minha cidade e 3 meses depois tivemos que sacrifícá-la. A cinomose já tinha atingido todo seu organismo, causando-a cegueira, perda do controle do esfícter anal e perda de memória - que foi a parte mais triste de tudo, pois a sacrificamos sem ela mesmo saber quem éramos nós e o quanto a amávamos.
Mas com a Brigitte foi diferente, nós já sabíamos de tudo e não bobeamos. Eu e minha família começamos a ir em todos os veterinários possíveis, e embora absolutamente TODOS "recomendavam" que a sacrificássemos, não o fizemos. A luta tinha começado e o nosso maior aliado foi a internet.
Entramos em fórus, grupos de pesquisa, sites veterinários, conversei com todas as protetoras de animais que conheço da minha cidade, experimentamos de tudo, de quiabo com leite à coquetéis de remédios. Até que um dia descobrimos duas bençãos: o Soroglobulin e a Ribavirina.
A princípio começamos a medicar somente com sorogloblin nossas duas cadelas, pois o soroglobulin reforça o sistema. Felizmente conversamos com uma veterinária que tinha nos dito que para um cão cujo vírus já atacou o sistema nervoso, o soroglobulin piorava pois fortalecia o vírus. Então começamos a dar apenas para a nossa outra cadela, Jovita, soroglobulin para impedir que o vírus a atacasse e damos Ribavirina à Brigitte. Todos os dias eram assim. Não sabemos ao certo o qaunto foi gasto com todo o nosso "Tratamento", mas pelo menos aqui na minha cidade, Londrina, a Ribavirina (usada no tratamento de hepatite c) custava em torno de R$500. Com a ajuda de um amigo buscamos em Curitiba, onde custava em torno de R$80.
Hoje, embora que mesmo com sequelas, a Brigitte aconvive bem com a cinomose (por uma vez no corpo do animal, ela nunca mais some). Já está com 1 ano e meio, 7kg, é muito alegre e brincalhona. Quando vou na cozinha de madrugada ela abana o rabo mesmo dormindo. Ela não gosta de pessoas com chapéus e sua brincadeira favorita é pegar seus brinquedos e fazer com que corramos atrás dela.
Da esquerda pra a direita: Brigitte e Jovita esperando adivinhem o que? Isso! O almoço!
Bom, pra completar, deixo aqui toda a minha aprendizagem e experiência que gostaria de passar pra vocês:
• Ao pegar um animal de rua, por mais que seja caro, leve-o imediatamente ao veterinário. Quem sabe se tivessemos levado a Brigitte algumas semanas antes, ela não teria sequelas hoje e nem teríamos tido uma luta tão grande e demorada.
• Se o vírus ainda não tiver atacado o sistema nervoso do seu animal, use Soroglobulin.
-Higiene sempre! Mas alegria também: eu e meus parentes resolvemos não separar os cachorrinhos, porque poderia afetar o emocional deles. Resolvemos arriscar que o vírus passasse pra a Jovita do que deixá-las deprimidas.
•Não tire seu cachorro de casa a menos que ele já tenha todas as vacinas.
•A ribavirina ainda não foi comprovada como remédio para tratamento da cinomose, mas apenas uma pesquisa rápida na internet mostra quantos cães ela já salvou. Devemos tudo ao Dr. Simone Henriques Mangia, cuja sua tese de doutorado foi sobre o tratamento da cinomose através de vitamina A e Ribavirina.
• Reforce o sistema dos seus animais com bastante vitamina. Eu também costumava substituir de vez em quando água por água-de-coco.
•E pra mim, essa é a mais importante: LUTE PELO SEU ANJINHO, fomos em vários, vários veterinários e todos queriam colocar meu anjinho pra dormir. Eles não entendem que ela é um membro da minha família??? Não sei como alguém faz uma faculdade pra tratar com animais, seres puros e amáveis, para serem tão frios e insensíveis.
Sabem, hoje de manhã ao abrir a porta, me deparei com um cãozinho magro e com sarna. Fui rapidamente à cozinha, peguei um pote com carne moída e arroz, num outro pote enchi de água. Peguei uns biscoitos também. Esperei a criaturinha comer tudo e depois passei violeta genciana em todas as feridas. O mais engraçado é que todo mundo que passava tinha uma reação muito estranha. Alguns sorriam felizes, outros me olhavam questionando meu comportamento. Uma senhora parou pra ver o que eu estava fazendo, e quando contei à ela ela me disse "é... não é todo mundo que tem o coração bom que nem o seu não". E eu me pergunto: Por quê? Por que quando fazemos um ato simples como esse, que não custou nem 20min do meu domingo, somos vistos como heróis? Por que se preocupar com um anjinho de rua, lutar por um anjinho, é algo tão incrível no nosso mundo?
Eu deixo aqui minha experiência, e meu pedido: SEJA UM "HERÓI". É disso que o mundo mais precisa hoje.
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