domingo, outubro 19

1 poesia por dia

Contranarciso


em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós


- Paulo Leminski

1 poesia por dia

    O pensamento  


O pensamento volta-se para ela 
A noite cai fria em meu peito 
A ferida lateja não cicatriza 
Os pensamentos ruins são como erva daninha que multiplica-se. 

- Marcio Jung

quinta-feira, outubro 16

1 poesia por dia

O INCRIADO

Rio de Janeiro , 1935

Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura
Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera
O vento ríspido agita sombras de araucárias em corpos nus unidos se amando
E no meu ser todas as agitações se anulam como as vozes dos campos moribundos.

Oh, de que serve ao amante o amor que não germinará na terra infecunda
De que serve ao poeta desabrochar sobre o pântano e cantar prisioneiro?
Nada há a fazer pois que estão brotando crianças trágicas como cactos
Da semente má que a carne enlouquecida deixou nas matas silenciosas.

Nem plácidas visões restam aos olhos — só o passado surge se a dor surge
E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter vida
Todas as meias-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido
Nas ruas noturnas a alma passeia, desolada e só em busca de Deus.

Eu sou como o velho barco que guarda no seu bojo o eterno ruído do mar batendo
No entanto como está longe o mar e como é dura a terra sob mim...
Felizes são os pássaros que chegam mais cedo que eu à suprema fraqueza
E que, voando, caem, pequenos e abençoados, nos parques onde a primavera é eterna.

Na memória cruel vinte anos seguem a vinte anos na única paisagem humana
Longe do homem os desertos continuam impassíveis diante da morte
Os trigais caminham para o lavrador e o suor para a terra
E dos velhos frutos caídos surgem árvores estranhamente calmas.

Ai, muito andei e em vão... rios enganosos conduziram meu corpo a todas as idades
Na terra primeira ninguém conhecia o Senhor das bem-aventuranças...
Quando meu corpo precisou repousar eu repousei, quando minha boca ficou sedenta eu bebi
Quando meu ser pediu a carne eu dei-lhe a carne mas eu me senti mendigo.

Longe está o espaço onde existem os grandes voos e onde a música vibra solta
A cidade deserta é o espaço onde o poeta sonha os grandes voos solitários
Mas quando o desespero vem e o poeta se sente morto para a noite
As entranhas das mulheres afogam o poeta e o entregam dormindo à madrugada.

Terrível é a dor que lança o poeta prisioneiro à suprema miséria
Terrível é o sono atormentado do homem que suou sacrilegamente a carne
Mas boa é a companheira errante que traz o esquecimento de um minuto
Boa é a esquecida que dá o lábio morto ao beijo desesperado.

Onde os cantos longínquos do oceano?... Sobre a espessura verde eu me debruço e busco o infinito
Ao léu das ondas há cabeleiras abertas como flores — são jovens que o eterno amor surpreendeu
Nos bosques procuro a seiva úmida mas os troncos estão morrendo
No chão vejo magros corpos enlaçados de onde a poesia fugiu como o perfume da flor morta.

Muito forte sou para odiar nada senão a vida
Muito fraco sou para amar nada mais do que a vida
A gratuidade está no meu coração e a nostalgia dos dias me aniquila
Porque eu nada serei como ódio e como amor se eu nada conto e nada valho.

Eu sou o Incriado de Deus, o que não teve a sua alma e semelhança
Eu sou o que surgiu da terra e a quem não coube outra dor senão a terra
Eu sou a carne louca que freme ante a adolescência impúbere e explode sobre a imagem criada
Eu sou o demônio do bem e o destinado do mal mas eu nada sou.

De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas
Se ele tem algemas que o impedem de levantar os braços para o alto
De nada valem ao homem os bons sentimentos se ele descansa nos sentimentos maus
No teu puríssimo regaço eu nunca estarei, Senhora...

Choram as árvores na espantosa noite, curvadas sobre mim, me olhando...
Eu caminhando... Sobre o meu corpo as árvores passando...
Quem morreu se estou vivo, por que choram as árvores?
Dentro de mim tudo está imóvel, mas eu estou vivo, eu sei que estou vivo porque sofro.

Se alguém não devia sofrer eu não devia, mas sofro e é tudo o mesmo
Eu tenho o desvelo e a bênção, mas sofro como um desesperado e nada posso
Sofro a pureza impossível, sofro o amor pequenino dos olhos e das mãos Sofro porque a náusea dos seios gastos está amargurando a minha boca.

Não quero a esposa que eu violaria nem o filho que ergueria a mão sobre o meu rosto
Nada quero porque eu deixo traços de lágrimas por onde passo
Quisera apenas que todos me desprezassem pela minha fraqueza
Mas, pelo amor de Deus, não me deixeis nunca sozinho!

Às vezes por um segundo a alma acorda para um grande êxtase sereno
Num sopro de suspensão a beleza passa e beija a fronte do homem parado
E então o poeta surge e do seu peito se ouve uma voz maravilhosa,
Que palpita no ar fremente e envolve todos os gritos num só grito.

Mas depois, quando o poeta foge e o homem volta como de um sonho
E sente sobre a sua boca um riso que ele desconhece
A cólera penetra em seu coração e ele renega a poesia
Que veio trazer de volta o princípio de todo o caminho percorrido.

Todos os momentos estão passando e todos os momentos estão sendo vividos
A essência das rosas invade o peito do homem e ele se apazigua no perfume
Mas se um pinheiro uiva no vento o coração do homem cerra-se de inquietude
No entanto ele dormirá ao lado dos pinheiros uivando e das rosas recendendo.
Eu sou o Incriado de Deus, o que não pode fugir à carne e à memória
Eu sou como velho barco longe do mar, cheio de lamentações no vazio do bojo
No meu ser todas as agitações se anulam — nada permanece para a vida
Só eu permaneço parado dentro do tempo passado, passando, passando...

Vinicius de Moraes

domingo, julho 13

Shame






Gênero: Drama
Direção: Steve McQueen
Ano: 2011
Roteiro: Abi Morgan, Steve McQueen
Elenco: Alex Manette, Amy Hargreaves, Anna Rose Hopkins, Calamity Chang, Carey Mulligan, Carl Low, Charisse Bellante, Chazz Menendez, DeeDee Luxe, Elizabeth Masucci, Hannah Ware, Jake Richard Siciliano, James Badge Dale, Lauren Tyrrell, Loren Omer, Lucy Walters, Mari-Ange Ramirez, Marta Milans, Michael Fassbender, Nicole Beharie, Rachel Farrar, Robert Montano, Stanley Mathis, Wenne Alton Davis
Produção: Emile Sherman, Iain Canning


   É até engraçado, mas eu tinha uma expectativa e ideia do filme antes de vê-lo completamente diferente do que ele era, ainda sim, me provocou quase a mesma reação.
 Shame é um filme maravilhoso em quesito de estética, com cenários abertos, claros  e limpos; onde a maioria dos lugares é com telas de vidro em vez de paredes, e isso reflete bem a vida de Brandon (Fassbender) - um publicitário bonito, bem sucedido e solteiro - pelo menos, em seu exterior.  O filme inicia com Brandon nu em sua cama, completamente sozinho e com o olhar frio, frio como a imagem tendo em destaque seu lençol azul o cobrindo. Brandon não gosta de sua vida, não gosta de seu estilo de vida, mas suporta muito menos sua irmã, Sissy (Carey Mullingan) vivendo em sua casa e atrapalhado sua rotina, seus tons de branco, azul e cinza. uma das primeiras cenas em que Sissy aparece é a cena de sua apresentação em um bar, interpretando "New York, New York", os tons de laranja e amarelo explodem na tela a partir de então.
Brandon e Sissy nos são apresentados como opostos. Sissy  (que, talvez por acaso, é um nome que me remete à "silly") é boba, infantil, doce, dependente e explosiva. Brandon é frio, calculista, objetivo. Em uma outra cena, quando em um jantar com uma colega de trabalho (a qual Brandon tentou se aproximar), ele diz a ela que não vê motivos para as pessoas viverem juntas pelo resto de suas vidas. Oh, e eu quase esqueci de mencionar, Brandon é um pervertido. É. Ele tem pornografia em todas as partes de sua casa, e não há uma vez em que ele tenha um encontro com uma mulher sem nada acontecer depois. Mas a verdade? Todas as cenas de nudez e sexo nada representam nesse filme.
 Algumas coisas intrigantes não são explicadas. De certa forma, pode-se notar uma certa intimidade anormal entre os irmãos. A primeira vez em que Sissy nos é apresentada, eu particularmente pensei que era alguma ex namorada de Brandon. A maioria das veze em que os personagens contracenam soam como um pouco incestuosas. Por mais que Sissy esteja sem onde morar, em momento algum é mencionado os pais.

We're not bad people. We just come from a bad place
(?)

Shame, na verdade, é uma história sobre solidão. 
Brandon não consegue se relacionar com ninguém, e Sissy é desesperada por ter um relacionamento. Brandon tenta suprir essa carencia oprimindo-a através de desejos carnais, enquanto a irmã tenta criar laços afetivos com qualquer pessoa. 
Entretanto, Steve McQueen fez com seu filme parecesse com um quadro - não há nada explicado, não há moral, não há um final para a  história de fato. Tudo o que McQueen nos dá é uma sensação de estranheza e a angustia o filme todo, assim como ocorre em seus personagens. Artisticamente é um filme completo e cheio, muito bonito e sensível, mas a ideia que eu tenho do roteiro é que McQueen não deu a devida importância a ele. Enfim, McQueen (e, devo mencionar, Carely Mullingan) poderia ter feito um trabalho melhor. Mas ainda sim, Shame é uma obra a qual recomendo.



Atuação: 8 (só pelo Fassbender também)
Fotografia: 9
Trilha sonora: 10
Roteiro: 5
Contexto: 7,5
Assistiria de novo? Não

Nota final: 7,9






Eu tinha certeza que estaria no youtube. Uma das cenas mais bonitas do filme:









sábado, março 1

Dallas Buyers Club






Gênero: Drama
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Craig Borten, Melisa Wallack
Elenco: Bradford Cox, Dallas Roberts, Denis O'Hare, Griffin Dunne, Jared Leto, Jennifer Garner, Jonathan Vane, Kevin Rankin, Lawrence Turner, Matthew McConaughey, Neeona Neal, Steve Zahn
Produção: Rachel Rothman, Robbie Brenner
Fotografia: Yves Bélanger
Duração: 117 min.


Eis que depois de muito tempo, me encontro aqui desesperada para ver os filmes do oscar dois dias antes da premiação. Não sou do tipo que aposta no filme apenas pelos atores, diretores ou história, e o meu primeiro filme escolhido para começar a fazer minhas apostas foi O Clube de compra Dallas.
Texas - inicio dos anos 70 - Ron Woodroof, um eletricista e peão nas horas vagas, que por uma relação sexual desprotegida acaba se tornando um portador do vírus HIV. E a partir daí, o filme toma um rumo incrível. O que torna-o mais incrível ainda é a participação de Jared leto como um travesti também portador de HIV.
Tudo o que posso dizer por enquanto é que acredito que este filme é um forte concorrente a vencer  várias indicações que possui - embora tenha um estilo extremamente diferente dos demais do Oscar. O filme, que foi filmado em apenas 25 dias e teve  um custo de US$5 milhões (muito abaixo do padrão hollywoodiano - Gravidade, por exemplo, custo US$100 milhões) relata uma história verídica onde mostra a corrupção das grandes empresas farmacêuticas sem cair no sentimentalismo mas ainda sim, sendo tocante. A relação que  Ron Woodroof (Matthew McConaughey) cria com Raymond (Jared Leto) não é muito mostrada no filme, entretanto, conseguimos perceber que a dor de ser um portador da doença (que também não é muito mostrada, com exceção das cenas onde aparece a extrema magreza de ambos os atores) junta-os, e a busca por uma cura através de drogas não estudadas representa todo o caos dos anos 70, quando a doença explodiu.
O crítico da Folha UOL, Carlos Starling Cássio pergunta em seu artigo que se não fosse pela extrema mudança física dos dois atores, o que justificaria filme ser indicado para o maior prêmio do cinema? Bem, na minha opinião, a mudança física doa atores ganha muitos pontos. Jared leto, que nunca foi um homem muito enxuto, conseguiu perder 13kg. E o galã  Matthew McConaughey, de filmes como Minhas Adoráveis Ex-Namoradas ou Trovão Tropical aparece quase irreconhecível na história, após aparecer sem bronzeado algum e com 21kg a menos. A Jennifer Garner também não deixou nada a desejar, btw.
O filme é limpo, bem escrito, simples, forte, dinâmico. Apostas? Ainda não faço, preciso assistir os outros. Mas ele mereceu ser indicado? Sim, sem dúvida. Fico muito feliz, inclusive, que o Oscar está estendendo seu tapete vermelho para filmes que não sejam apenas retratos da soberana sociedade americana ou das tristes guerras mundiais.

domingo, janeiro 26

Como vencemos a cinomose

Eu geralmente não costumo fazer artigos que não sejam sobre livros ou filmes, mas minhas férias estão quase acabando e eu não poderia ficar sem compartilhar com todos a minha luta, da minha família e a nova integrante da mesma, a Brigitte.
Em dezembro de 2012, minha mãe encontrou uma cadelinha de aproximadamente uns 2 meses cheia de bolinhas de pus no corpo e bem magrinha; era uma filhotinha de basset toda fofinha, e por mais que estivesse cheia de caroços sobre o corpo e os ossinhos aparecendo, se a gente chegasse perto dela, na hora começava a abanar o rabinho. Ficamos com ela, óbvio.
Pois bem. Demos água, comida, remédio anti-vermes, limpamos suas feridinhas. Depois de um tempo começamos a notar que ela tinha uma espécie de tique, piscava o olho esquerdo com força e constantemente. Fizemos uma breve pesquisa na internet e supomos que ela tinha esclerose de cristalino. Infelizmente, após uma ida de 5min ao Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (que está cobrando R$60,00 por consulta, o que é triste para uma cidade com 700 mil habitantes que não possui ainda nenhum posto veterinário...), descobrimos que o que a já nomeada Brigitte Basset tinha era cinomose, ou como eu e os já apresentados à doença gostamos de chamar, o câncer do cão.
Pra quem não conhece, vou colocar uma base sobre o que é a cinomose:

Trata-se de um doença que acomete os cães. Ela pode atingir vários órgãos, ou seja, é sistêmica, podendo atuar em todo o organismo.
É altamente contagiosa, sendo causada por um vírus que sobrevive por muito tempo em ambiente seco e frio, e menos de um mês em local quente e úmido. É um vírus muito sensível ao calor, luz solar e desinfetantes comuns e, leva quase sempre à morte tanto filhotes, porém os adultos também podem se contaminar se não vacinados. Não escolhe sexo ou raça, nem a época do ano.
Como é feita a transmissão?
Ela se dá através de animais que se contaminam por contato direto com outros animais já infectados ou pelas vias aéreas quando respiram o ar já contaminado.
Alguns animais doentes podem não apresentarem sintomas, porém estão disseminando o vírus para outros animais ao seu redor através de secreções oculares, nasais, orais ou pelas fezes, sendo que a principal fonte de transmissão é através de espirros, pois quando o animal espirra, elimina gotículas de água pelo nariz e estas gotículas estão contaminadas com o vírus. Este ato de espirrar pode contaminar cães sadios que estiverem por perto ou até mesmo um humano pode carregar o vírus nas suas roupas ou sapatos, sem se contaminar indo até um animal sadio, onde será depositado. Portanto, o cão pode se infectar por via respiratória ou digestiva, através de contato direto ou fômites (um humano, por exemplo) e até por água e alimentos que contenham secreções de animais contaminados.
Os sintomas da Cinomose:


Depois que o animal foi infectado, ocorre um período de incubação de 3 a 6 dias ou até 15 dias, que é o tempo que o vírus leva para começar a agir dentro do organismo e fazer com que o cão apresente os sintomas. Após isso, o animal apresenta febre que pode chegar até os 41º C com perda de apetite, apatia (ficar quieto demais), vômito e diarréia, corrimento ocular e nasal. Estes sintomas iniciais podem durar até 2 dias.
Após isso, o animal pode se apresentar com o comportamento normal, como se estivesse curado, passando uma idéia de que poderia ter sido acometido apenas de um mal estar temporário. Essa falsa idéia de que está tudo de volta ao normal pode permanecer por meses.
Após isso, surgem os sinais patognomônicos (específicos), da cinomose e a intensidade destes sinais dependerão do sistema imune de cada animal.
Dentre estes sinais típicos podemos citar vômito e diarréia, novamente o corrimento ocular e nasal e sinais de alteração do sistema nervoso como falta de coordenação motora (o animal parece estar “bêbado”), tiques nervosos, convulsões, paralisias.
De acordo com o estado do sistema imunológico do animal como um todo, ele pode vir a óbito diante de apenas um só sintoma ou pode sobreviver desenvolvendo todos os sintomas, a todas as fases com prognóstico desconhecido.
Pela ordem geralmente, os primeiros sintomas da segunda fase (aquela após meses em estado normal) são a febre, falta de apetite, vômitos, diarréia e dificuldade de respirar (dispnéia). Posteriormente, conjuntivite com muita secreção ocular, secreção nasal acentuada e peneumonia. Passada uma ou duas semanas, os sintomas neurológicos são apresentados. Diante destes sintomas, o cão pode ficar agressivo, tendo dificuldade em reconhecer seu dono, pois ocorre uma inflamação no cérebro. Pode ocorrer também uma paralisia dos músculos da face e diante disso o cão não consegue beber água, pois a paralisia não permite que ele abra a boca. As lesões cerebrais e medulares devido ao vírus podem causar paralisia no quarto posterior como se o animal estivesse “descadeirado”, ou apresentar incoordenação motora. Os sintomas tendem a piorar conforme os dias se passam, de forma lenta ou rápida, dependendo de cada animal, porém não regridem depois do vírus já estar devidamente instalado no organismo.


Foi uma tristeza pra toda a família. Lembro-me de quando tinha 10 anos e já tinha perdido uma cadelinha de cinomose. Morávamos em apartamento, ela tinha por volta de 1 ano e ainda não tinha todas as vacinas. Um dia a levamos numa feira da minha cidade e 3 meses depois tivemos que sacrifícá-la. A cinomose já tinha atingido todo seu organismo, causando-a cegueira, perda do controle do esfícter anal e perda de memória - que foi a parte mais triste de tudo, pois a sacrificamos sem ela mesmo saber quem éramos nós e o quanto a amávamos.
Mas com a Brigitte foi diferente, nós já sabíamos de tudo e não bobeamos. Eu e minha família começamos a ir em todos os veterinários possíveis, e embora absolutamente TODOS "recomendavam" que a sacrificássemos, não o fizemos. A luta tinha começado e o nosso maior aliado foi a internet.
Entramos em fórus, grupos de pesquisa, sites veterinários, conversei com todas as protetoras de animais que conheço da minha cidade, experimentamos de tudo, de quiabo com leite à coquetéis de remédios. Até que um dia descobrimos duas bençãos: o Soroglobulin e a Ribavirina. 
A princípio começamos a medicar somente com sorogloblin nossas duas cadelas, pois o soroglobulin reforça o sistema.  Felizmente conversamos com uma veterinária que tinha nos dito que para um cão cujo vírus já atacou o sistema nervoso, o soroglobulin piorava pois fortalecia o vírus. Então começamos a dar apenas para a nossa outra cadela,  Jovita, soroglobulin para impedir que o vírus a atacasse e damos Ribavirina à Brigitte. Todos os dias eram assim. Não sabemos ao certo o qaunto foi gasto com todo o nosso "Tratamento", mas pelo menos aqui na minha cidade, Londrina, a Ribavirina (usada no tratamento de hepatite c) custava em torno de R$500. Com a ajuda de um amigo buscamos em Curitiba, onde custava em torno de R$80.

Hoje, embora que mesmo com sequelas, a Brigitte aconvive bem com a cinomose (por uma vez no corpo do animal, ela nunca mais some). Já está com 1 ano e meio, 7kg, é muito alegre e brincalhona. Quando vou na cozinha de madrugada ela abana o rabo mesmo dormindo. Ela não gosta de pessoas com chapéus e sua brincadeira favorita é pegar seus brinquedos e fazer com que corramos atrás dela.



Da esquerda pra a direita: Brigitte e Jovita esperando adivinhem o que? Isso! O almoço!












Bom, pra completar, deixo aqui toda a minha aprendizagem e experiência que gostaria de passar pra vocês:

• Ao pegar um animal de rua, por mais que seja caro, leve-o imediatamente ao veterinário. Quem sabe se tivessemos levado a Brigitte algumas semanas antes, ela não teria sequelas hoje e nem teríamos tido uma luta tão grande e demorada.
• Se o vírus ainda não tiver atacado o sistema nervoso do seu animal, use Soroglobulin.
-Higiene sempre! Mas alegria também: eu e meus parentes resolvemos não separar os cachorrinhos, porque poderia afetar o emocional deles. Resolvemos arriscar que o vírus passasse pra a Jovita do que deixá-las deprimidas.
•Não tire seu cachorro de casa a menos que ele já tenha todas as vacinas.
•A ribavirina ainda não foi comprovada como remédio para tratamento da cinomose, mas apenas uma pesquisa rápida na internet mostra quantos cães ela já salvou. Devemos tudo ao Dr. Simone Henriques Mangia, cuja sua tese de doutorado foi sobre o tratamento da cinomose através de vitamina A e Ribavirina.
• Reforce o sistema dos seus animais com bastante vitamina. Eu também costumava substituir de vez em quando água por água-de-coco.
•E pra mim, essa é a mais importante: LUTE PELO SEU ANJINHO, fomos em vários, vários veterinários e todos queriam colocar meu anjinho pra dormir. Eles não entendem que ela é um membro da minha família??? Não sei como alguém faz uma faculdade pra tratar com animais, seres puros e amáveis, para serem tão frios e insensíveis.

Sabem, hoje de manhã ao abrir a porta, me deparei com um cãozinho magro e com sarna. Fui rapidamente à cozinha, peguei um pote com carne moída e arroz, num outro pote enchi de água. Peguei uns biscoitos também. Esperei a criaturinha comer tudo e depois passei violeta genciana em todas as feridas. O mais engraçado é que todo mundo que passava tinha uma reação muito estranha. Alguns sorriam felizes, outros me olhavam questionando meu comportamento. Uma senhora parou pra ver o que eu estava fazendo, e quando contei à ela ela me disse "é... não é todo mundo que tem o coração bom que nem o seu não". E eu me pergunto: Por quê? Por que quando fazemos um ato simples como esse, que não custou nem 20min do meu domingo, somos vistos como heróis? Por que se preocupar com um anjinho de rua, lutar por um anjinho, é algo tão incrível no nosso mundo?

Eu deixo aqui minha experiência, e meu pedido: SEJA UM "HERÓI". É disso que o mundo mais precisa hoje.

Palavras-chave: 

Ribavirina
Soroglobulin
Vitamina-A para cães
Cinomose tratamento
Cinomose Cura

domingo, outubro 20

El Hombre de al Lado



Gênero:  Drama
Ano: 2009
Direção: Gastón Duprat, Mariano Cohn
Roteiro: Andrés Duprat
Elenco: Bárbara Hang, Daniel Aráoz, Debora Zanolli, Enrique Gagliesi, Eugenia Alonso, Eugenio Scopel, Inés Budassi, Lorenza Acuña, Rafael Spregelburd
Produção: Fernando Sokolowicz
Fotografia: Gastón Duprat, Mariano Cohn
Trilha Sonora: Sergio Pangaro


Por mais que eu tenha estado fora durante muito tempo, O homem ao lado é um filme que não pude deixar de colocar por aqui, afinal, possui a minha característica preferida de filmes: a sutileza impactante.
O filme começa com dois cenários: uma parede branca e uma parede negra. Neste ponto, Duprat e Cohn já demonstram com o que o filme trabalha, quero dizer,  diferenças e oposições.
Com temática simples, o enredo tem como marcapasso a construção de uma janela de Victor ( Daniel Aráoz) que dá uma grande  vista da casa de Leonardo (Rafael Spregelburd), o que o incomoda, pois isso é invasão de privacidade e portanto, ilegal.
De certa forma, a janela consegue canalizar toda a vida caótica que a família de Leonardo possui. Uma filha que odeia os pais (e que acaba fazendo amizade com o vizinho Victor, um homem espontâneo e amigável, talvez tudo o que Lola, a filha, precisasse), uma mulher inflexível e opressora ( acho que a personagem mais mal-comida que eu já vi)  enchem a unica casa da America latina desenhada pelo arquiteto famoso Le Corbusier.
Ao longo do filme, Victor ganha cada vez mais o nosso carinho e Leonardo, cada vez menos. Boa parte disso é devido ao fato de que Leonardo é um homem egoísta, arrogante e petulante. 
Leonardo e sua mulher, ao meu ver,  expressam toda sua angustia existencial através do simples problema da janela, talvez por medo de Victor, com a janela, poder não invadir a privacidade dos dois, mas sim observar suas vidas infelizes, por mais que tudo isso seja notavelmente escondida por panos quentes e "bitoquinhas".
Sei que muitas pessoas não ficaram agradadas com o final do filme -  que não será mencionado por aqui - mas que em minha opinião, dá liberdade ao espectador  e acima de tudo, conclui toda o conceito do filme e da personalidade de Leonardo. E embora Victor roube toda a cena durante o filme junto com a ótima atuação de Daniel Aráoz, o filme mostra toda um ser vivendo de um modo caótico junto a uma vida inerte.


Atuação: 7,5
Fotografia: 8
Trilha sonora: 5 (o final salva)
Enredo: 7
Contexto: 7,5
Assistiria de novo? Não

Nota final: 6,9

quarta-feira, julho 24

Closer



Gênero: Drama
Direção: Mike Nichols
Roteiro: Patrick Marber
Elenco: Clive Owen, Jude Law, Julia Roberts, Natalie Portman, Steve Benham
Produção: Cary Brokaw, John Calley, Mike Nichols, Robert Fox, Scott Rudin
Fotografia: Stephen Goldblatt
Trilha Sonora: Damien Rice, Liam Howlett
Duração: 98 min.

Closer  é um filme muito conhecido e que alimenta múltiplas opiniões sobre. Para alguns, Closer é um drama cansativo e entediante que de nada tem novo, para outros é uma obra prima atual e extremamente polêmica.
Confesso que só fui assistir Closer recentemente, o que foi muito bom.  Se tivesse assistido há alguns anos, não teria gostado tanto quanto gosto hoje.
Closer não é um daqueles dramas sensíveis e sentimentais; Closer é frio, é simples, embora sua temática e sequencia cronológica seja um pouco difícil de entender. 
Eu não diria que Closer é uma obra prima, mas com certeza é um excelente filme. 
O mais incrível do filme são suas reviravoltas e final. A principio, sentimos um certo afeto pelas personagens, mas com o tempo, vamos pegando cada vez mais desprezo, e assimilando-os cada vez mais com nós mesmos. 
A parceria e a relação dos atores são mutuamente boas. É incrível como um elenco tão duvidoso poderia se combinar de tal forma que o filme tivesse uma trama tão surpreendentemente diferente, mas que com um outro olhar, revela os valores, os sentimentos humanos e suas relações na era contemporânea. Closer não trabalha com o amor, mas co a falta deste. Trabalha com os amores e relações líquidas, com o egocentrismo, a falta de compromisso e a nossa individualidade. Closer me fez pensar em todas as marcas que um relacionamento pode nos deixar e se há, de fato,  culpados em uma relação.

Atuação: 8
Fotografia: 7,5
Trilha sonora: 6
Enredo: 8
Contexto: 8
Assistiria de novo? Sim.

Nota final: 7,6

terça-feira, julho 23

Anna Karenina (2012)




Gênero: Drama
Direção: Joe Wright
Roteiro: Tom Stoppard
Duração: 129 minutos
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Alexandra Roach, Alicia Vikander, Allegra Giagu, Bill Skarsgård, Buffy Davis, Claire Greenway, Conor McCarry, Denis Khoroshko, Domhnall Gleeson, Edward Lewis French, Emerald Fennell, Emily Watson, Eros Vlahos, Gergo Brummel, Greg Bennett, Guro Nagelhus Schia, Hera Hilmar, Holliday Grainger,James Fiddy, James Northcote, Jensen Freeman, John Bradley, Jude Law, Jude Monk McGowan, Keira Knightley,Kelly Macdonald, Kenneth Collard, Kostas Katsikis, Kyle Soller, Luke Newberry, Martin Poole, Matthew MacFadyen
Produção:Tim Bevan ,Eric Fellner, Paul Webster.
Trilha sonora: Dario Marianelli


O tempo não me permite a ousadia de ler o livro e assistir às outras adaptações da historia, então por enquanto, falarei apenas deste filme, Anna Karenina, de 2012.
Há quem diga que Amour (2012, vencedor do oscar de melhor filme estrangeiro) seja de uma sensibilidade enorme. Eu não discordo, mas Amour escondeu o brilho de Anna Karenina no oscar do ano passado. Embora que apesar de tudo, ganhou o oscar de melhor figurino.
Sem dúvida Anna Karenina está entre os filmes mais belos que já vi em toda a minha vida. Não apenas pela história, ou pela fotografia, ou cenografia, ou figurino, ou atuação, é... é tudo!
 Não consigo pensar em um aspecto que tenha dado errado nessa película... mas eu digo, como uma mera espectadora, não como fã da literatura de Tolstoi (embora eu seja  de fato,fã de Tolstói, ainda não li o livro).
A primeira fraqueza que tenho por este filme é que, primeiramente, ele é uma parceria de Joe Wright com a minha amada Keira Knightley, e como se não fosse o bastante, MacFadyen ( amado Mr. Darcy <3 ) faz o papel de irmão de Karenina (representada por Keira) e puxa, se Darcy era um homem sério e contido, MacFayden, embora tenha sido reconhecido por mim nos primeiros 3 segundos de filmagem (sabe aquele sensação maravilhosa de quando voce reconhece um ator que voce não esperava aparecer? delícia de sensação!) entra em uma personagem completamente diferente. Jude Law também me surpreendeu e continua me surpreendendo - recentemente assisti Closer e minha opinião a respeito do "garoto com um rostinho bonito" está mudando. No mais, Keira é bela e majestosa como sempre,e devo admitir que como crítica, meu fanatismo por ela é um tanto quanto preocupante. A verdade é que Keira entra no estilo de atuação que eu não gosto: aquela atuação que sempre acontece, e sempre funciona. Explicando melhor: Johnny Depp (o esquisitão engraçado), Jack Nicholson (o sarcástico louco) e Bradley Cooper (o... babaca?) são alguns exemplos de atores que seguem sempre a mesma fórmula, mas venho refletido muito sobre isso e... quem sabe o segredo é, de fato, escolher uma fórmula para atuar e segui-la sempre?  Bem, posso dizer que, mais uma vez, a fórmula para Keira funcionou.
A direção de arte é magnifica. Sua fotografia, efeitos, e a teatralidade de tudo dá um um clima ainda mais luxuoso e magnífico para o filme. Recentemente li a muitas criticas duras sobre Anna Karenina, e desculpem-me a sinceridade, eles não conseguiram captar a beleza deste.
Provavelmente não notaram a cor do figurino de Karenina, sempre contrastando com os demais, sempre se diferenciando dos demais; ou o modo de como a luz mudava dependendo do clima da cena, e os efeitos! Os efeitos lindos e mágicos! O filme por inteiro me parece um quadro, aliás, um quadro de Monet; esse pensamento não me sai da cabeça: a direção de arte foi toda baseada nas obras de Monet!
Anna Karenina é como se fosse um grande espetáculo de ópera, e talvez por isso, pelo modo de como Wright trabalhou este filme, por seu drama e teatralidade, não tenha sido reconhecido.
Tenho que admitir que discorrer sobre esse filme no meu blog é um prato cheio. Não farei nem mesmo a minha avaliação comum, eu dou um 10. Assistirei às outras adaptações e lerei o livro, só assim, de fato, poderei fazer uma crítica justa. No mais, eu o asistiria de novo, e de novo, e de novo...